terça-feira, 29 de novembro de 2011

O corredor e a luminária .

Era uma ensolarada tarde de novembro, quando aquele sedentário resolve pôr um tênis e caminhar um pouco. Fez um aquecimento leve - aqueles saltinhos de corredor, com uns chutes rápidos -, fez um breve alongamento e começou. Um passo, depois outro, depois de vários sentiu que dava para exigir um pouco mais do corpo. Correu.

Logo que iniciou a corrida, começou a pensar na vida, no trabalho, no exemplo que poderia dar aos alunos, aos amigos e aos familiares. Envolveu-se com a música que tocava no seu aparelho celular. Aumentou o volume, pôs a mão nos fones de ouvido para conferir se estavam bem ajustados e respirou fundo, começando a apressar o passo. Pois estava quase chegando a reta do balde do açude.

O suor escorria do rosto, os pensamentos fluiam, os passos cada vez mais largos, acelerou um pouco na reta do balde do açude, e ao chegar no fim daquela reta notou algo muito estranho. Parou.


Ficou observando para tentar compreender o que seria aquilo. Uma luminária revoltada que queria se desprender do sistema. Não entendeu e achou um absurdo, pois não é comum as luminárias demonstrarem tamanha personalidade. Resolveu fotografar aquilo e o fez.


Continuou sua corrida e retornou minutos depois para casa. Não conseguia tirar aquela imagem do pensamento. Decidiu que postaria nas redes sociais aquela imagem tão surpreendente. Era coisa muito simples, confessou horas depois, mas aquilo o tirou do senso comum e o projetou para uma esfera de responsabilidades em que repetidamente pensava:
- E se aquilo cair na cabeça de alguém? De uma senhora ou jovem, quem sabe?

Não tardou para dormir. A corrida foi muito cansativa. Estava exausto.

No dia seguinte, voltou a sua rotina costumeira. Fez suas obrigações, conferiu as atividades dos alunos, recomendou atividades e leituras, voltou para casa e tentou tirar da cabeça aquela imagem da luminária que insistia em desligar-se do sistema. De quem seria a responsabilidade por aquela decisão de infringir o sistema? Não sabia a resposta.

Horas mais tarde, resolveu dar continuidade a atividade esportiva que começara no dia anterior. Correu devagar, bem devagar, pois no dia anterior havia exagerado um pouco, já que tinha passado um bom tempo sem fazer atividades físicas regulares. Porém estava decidido a mudar de hábitos. Correu, correu, correu e ao chegar no fim da reta do balde do açude, o que ele vê? O resultado do seu esforço do dia anterior.


Satisfação pessoal e certeza de que, apesar de um simples gesto, conseguiu exercer sua cidadania e fazer o bem aos que são seus companheiros de caminhada. Muito embora nem todos o conheçam. Contudo, ao menos uma coisa ele não vai esquecer. Aquelas palavras da senhora que no dia anterior havia visto ele fotografar aquela luminária:

- Funcionou, hein?

E continuou a corrida...

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