Andou a manhã toda sem parar para descansar os pés. Cansado estava sim. Já havia caminhado muito caatinga a dentro. Tinha em mente um alvo: chegar a tempo.
Tirou do bisaco algumas bolachas que pusera logo antes de sair pelo mundo, prevendo que a fome o alcançaria alguma hora.
Enquanto caminhava, mastigava pequenos pedaços da bolacha e, com eles, também mastigava as tristezas, as frustrações, as desilusões e o rancor que guardara desde criança.
A tarde o acompanhou no trajeto, impingindo o calor e o cansaço. Não desistia por nada.
Havia em seu olhar um brilho diferente e amedrontador. Ele estava alegre. Podia se ver isso. Seu olhar era fixo num ponto distante do horizonte.
Passo após passo, seguia firme. Suor escorria. A noite chegara. Ele naquele movimento repetido e de vez em quando molhava a garganta seca com pequenos goles d'água da cabacinha que também trouxera.
Mais bolachas, mais água, mais caminhada, mais dor nos pés, mais cansado, mais esperançoso, mais fixo o olhar, mais forte a lembrança, maior o desejo de chegar logo em casa.
Era véspera de Natal, e trazia consigo um presente inesquecível pelo qual aquela criança já esperava há quase 10 anos: um pai.
Kleber Brito
Muito bom! Emocionante...principalmente pra mim que perdi meu pai aos doze anos. Quem dera eu o tivesse neste natal, dia 24 ele estaria completando 62 anos. Parabéns Kleber!
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