QUESTÃO OU NÃO QUESTÃO? EIS A QUESTÃO.
Professor Kleber Brito
Sabe aquelas pragas que infestam uma planta e aos poucos, sem que o dono tenha tempo de tomar as devidas providências, se alastram pela lavoura toda? Pois é. Não pense que na língua falada ou escrita é diferente. Vez por outra, com o descuido dos milhões de cultivadores das palavras, uma moda se incorpora na língua “e aí já era!”.
Talvez você já tenha se contaminado com a praga da “questão”. E, de repente, quando você tentava transmitir uma informação mais bem elaborada ou mesmo num momento informal, a “questão” aparece.
Eu explico melhor. Dois amigos conversam sobre a política brasileira:
- Como você entende a questão do aumento salarial dos professores?
- A questão não é essa. A questão é que muito se tem falado na qualidade da educação...
Viu? Percebeu o nódulo? Não? “Pera aí”!
- Professora, e a questão das drogas nas comunidades?
- Querida, os traficantes são os grandes responsáveis, mas a questão da polícia combater é outro problema.
Dos feirantes aos professores universitários, a questão tem tomado conta de tudo. Recentemente, em uma palestra a mediadora soltou essa:
A sociedade precisa pensar na questão da criança hoje.
Ela poderia ter dito “A sociedade precisa pensar na criança hoje”; ou “A sociedade precisa pensar nos problemas que as crianças enfrentam hoje”; ou ainda “A sociedade precisa pensar na condição da criança hoje”. Mas ao invés disso, não, claro que não! Ela enfia a questão no meio.
Acho que meu bom leitor entendeu a questão[1], digo, o problema. Não é mesmo?
Enfim, como não é uma questão digna de um debate acadêmico, é melhor partir para outra questão, pois esta já está se tornando uma questão repetitiva. Porém, como ninguém se importa com essa questão, é melhor abordar a questão das enchentes, a questão da política, a questão do aquecimento global além de outras questões.
Qual a próxima questão a ser discutida?
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