quinta-feira, 7 de junho de 2012

CEMITÉRIO NOVO


Passaram pela vida
Tocaram no etéreo
Mas resolveram ir morar no cemitério.

Desceram à noite
Possuíram a tumba
Fizeram de seu colchão a catacumba.

A vida quente
A pedra fria
Entra o cadáver em romaria.

E todos cantam
Uma balada
Para os que descem à madrugada.

Vão um a um
Na rua dos defuntos
‘cabou, amigos, o nosso assunto.

Morte ignota
Ente mesquinho
Levou embora meu vô Nequinho

Foi Severina
Adeus, vovó,
Cobriu-a, a cal, desceu ao pó.

A água ardente,
Que amarga é!
Levou embora meu tio Zé.

Se foi André,
Um mano meu
Que dura pena! Quão me doeu.

Há muito tempo,
E não esqueço,
Mudou Roberto seu endereço.

Foi co’ outro amigo
Morar no céu
Acompanhou-o Seu Eliel.

Voou bem alto
Jovem delgado
Levou-o à força, meu Paço Mago.

Vão um a um
Na procissão do tempo
Raro as lembranças não tomam ventos.

Já fui menino, moço
Hoje me ponho
No meio da linha em que me componho.

E nessa estrofe
Eu me despeço
Serei também cantado em versos?

(Segue o cortejo...)


Kleber Brito

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