sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O macaco que quis ser escritor satírico - atividade de compreensão da narrativa


O Macaco Que Quis Ser Escritor Satírico
Augusto Monterroso

Na Selva vivia uma vez um Macaco que quis ser escritor satírico.
Estudou muito, mas logo se deu conta de que para ser escritor satírico lhe faltava conhecer as pessoas e se aplicou em visitar todo mundo e ir a todos os coquetéis e observá-las com o rabo do olho enquanto estavam distraídas com o copo na mão.
Como era verdadeiramente muito gracioso e as suas piruetas ágeis divertiam os outros animais, era bem recebido em toda parte e aperfeiçoou a arte de ser ainda mais bem recebido.
Não havia quem não se encantasse com sua conversa, e quando chegava era recebido com alegria tanto pelas Macacas como pelos esposos das Macacas e pelos outros habitantes da Selva, diante dos quais, por mais contrários que fossem a ele em política internacional, nacional ou municipal, se mostrava invariavelmente compreensivo; sempre, claro, com o intuito de investigar a fundo a natureza humana e poder retratá-la em suas sátiras.
E assim chegou o momento em que entre os animais ele era o mais profundo conhecedor da natureza humana, da qual não lhe escapava nada.
Então, um dia disse vou escrever contra os ladrões, e se fixou na Gralha, e começou a escrever com entusiasmo e gozava e ria e se encarapitava de prazer nas árvores pelas coisas que lhe ocorriam a respeito da Gralha; porém de repente refletiu que entre os animais de sociedade que o recebiam havia muitas Gralhas e especialmente uma, e que iam se ver retratadas na sua sátira, por mais delicada que a escrevesse, e desistiu de fazê-lo.
Depois quis escrever sobre os oportunistas, e pôs o olho na Serpente, a qual por diferentes meios — auxiliares na verdade de sua arte adulatória — conseguia sempre conservar, ou substituir, por melhores, os cargos que ocupava; mas várias Serpentes amigas suas, e especialmente uma, se sentiriam aludidas, e desistiu de fazê-lo.
Depois resolveu satirizar os trabalhadores compulsivos e se deteve na Abelha, que trabalhava estupidamente sem saber para que nem para quem; porém com medo de que suas amigas dessa espécie, e especialmente uma, se ofendessem, terminou comparando-a favoravelmente com a Cigarra, que egoísta não fazia mais do que cantar bancando a poeta, e desistiu de fazê-lo.
Finalmente elaborou uma lista completa das debilidades e defeitos humanos e não encontrou contra quem dirigir suas baterias, pois tudo estava nos amigos que sentavam à sua mesa e nele próprio.
Nesse momento renunciou a ser escritor satírico e começou a se inclinar pela Mística e pelo Amor e coisas assim; porém a partir daí, e já se sabe como são as pessoas, todos disseram que ele tinha ficado maluco e já não o recebiam tão bem nem com tanto prazer.






ATIVIDADE

1. De maneira geral, o enredo é construído em volta de um Conflito. Este conflito pode ser externo (entre o protagonista e elementos antagonistas no mundo ficcional) e/ou interno (entre o protagonista e suas próprias falhas de caráter, limitações, o destino, etc). Qual o tipo do conflito do enredo no texto em estudo? Explique.


2. Das duas categorias de conflito citadas anteriormente, podemos desenvolver quatro tipos básicos de conflito. Assinale a alternativa que melhor descreve, particularmente, o tipo de conflito presente no texto. Depois justifique sua resposta.

a) Conflito Físico (o protagonista enfrenta fisicamente o antagonista ou as forças da natureza); 
b) Conflito Clássico (o protagonista encara as circunstâncias da sua vida ou luta contra seu “destino”); 
c) Conflito Social(o protagonista luta contra ideias, costumes e valores do meio em que está inserido); 
d) Conflito Psicológico (o protagonista enfrenta suas próprias escolhas, ideias de certo e errado, suas limitações).

3. No texto, apesar de não haver marcas claras de discurso das personagens (diálogo identificado pelos travessões), podemos encontrar exemplo de uma fala. Identifique este exemplo e o transcreva utilizando os recursos expressivos que destaquem essa fala.

4. De acordo com a classificação tradicional, texto é narrado em:
( ) 1ª pessoa ( ) 3ª pessoa

· O narrador, portanto, é:
( ) personagem ( ) observador

· Após esta simples observação, podemos dizer que o narrador é, particularmente, do tipo:
( ) onisciente ( ) intruso ( ) observador ( ) testemunha

5. Com relação à compreensão do texto, responda:
a) Quais eram as características do macaco no início da narrativa?

b) Que outras características o macaco adquiriu e desenvolveu ao longo da narrativa?

c) Com que finalidade o macaco adquiria estas características?

d) Por fim, tendo apreendido novas habilidades, a que conclusão o macaco pode ter chegado? 


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