À Walt Whitman
por sua rica poesia
Um poema traduzido é uma mentira interpretada.
Não faz sentido desapropriar a rosa do seu cheiro
E impregnar a luz com sua substância odorífera.
Cada poema foi feito para ser lido em sua própria língua.
Não faz sentido tirar da maçã o seu sabor
E incorporá-lo à matéria sombria dos sonhos.
Um poema em outro signo é como a alma fora de seu corpo.
Não faz sentido a relva, tocada pelo vento,
Sentidos por tuas mãos, este conjunto tátil infinito,
Ser subtraída da matéria corpórea do desejo.
Tua terra, teu lar, tua vida, tua alma, ó poeta!
Essa relva que te cerca e te motiva a ir além
do óbvio e da linguagem: é tanto matéria tua
como composto da alma dos homens.
A poesia de existir, exista-se.
Revele-se, que se faça em sua própria terra,
Da mesma matéria infinita que compõe a linguagem.
Um poema lido em língua pátria é uma verdade absoluta
de sentir e do prazer verbal.
Faz sentido sair de si e invadir cada linha de matéria incompreensível
E viajar na náusea de uma leitura intangível.
E replicar-se num mundo inexplicável, de uma estética sublime
E impecável, num evento orgíaco das palavras
No baú que contém a tua mente verdadeira.
Kleber Brito
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