sábado, 27 de julho de 2013

FOLHAS DO LIVRO

À Walt Whitman
por sua rica poesia 




Um poema traduzido é uma mentira interpretada.

Não faz sentido desapropriar a rosa do seu cheiro

E impregnar a luz com sua substância odorífera.




Cada poema foi feito para ser lido em sua própria língua.

Não faz sentido tirar da maçã o seu sabor

E incorporá-lo à matéria sombria dos sonhos.




Um poema em outro signo é como a alma fora de seu corpo.

Não faz sentido a relva, tocada pelo vento,

Sentidos por tuas mãos, este conjunto tátil infinito,

Ser subtraída da matéria corpórea do desejo.




Tua terra, teu lar, tua vida, tua alma, ó poeta!

Essa relva que te cerca e te motiva a ir além

do óbvio e da linguagem: é tanto matéria tua

como composto da alma dos homens.

A poesia de existir, exista-se.

Revele-se, que se faça em sua própria terra,

Da mesma matéria infinita que compõe a linguagem.




Um poema lido em língua pátria é uma verdade absoluta

de sentir e do prazer verbal.

Faz sentido sair de si e invadir cada linha de matéria incompreensível

E viajar na náusea de uma leitura intangível.

E replicar-se num mundo inexplicável, de uma estética sublime

E impecável, num evento orgíaco das palavras

No baú que contém a tua mente verdadeira.







Kleber Brito

Nenhum comentário:

Postar um comentário