terça-feira, 30 de julho de 2013

POEMA - Ah, Doção!


Menino com fome, na rua, no tempo

Perdido no espaço nas eras que vêm.
Te espero, menino, e guardo comigo 
Um abraço.
Pra te esqueceres que não tens mãe, 
nem pai, nem ninguém, te trago meu amor.
Eu queria abraçar todas as crianças do mundo,
E saber o que Deus reserva pra elas.
Ou mesmo dizer-lhes: não chorem!
Eu estou aqui!


Kleber Brito

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Uma simples história de amor (Parte II)

Alguns meses se passaram, a dúvida que antes habitava meus pensamentos deu lugar à certeza de que eu nutria um sentimento forte por aquela garota. Passei a frequentar sua casa mais vezes para jogar Scotland Yard, War, ou outro jogo qualquer. Fiquei algumas vezes para jantar, assistir a algum filme, conversar, contar histórias, piadas... Ela ia quase todo dia para o Curso de Espanhol e eu, às vezes, quando saía da escola onde lecionava à noite, esperava-a só para conversar. A nossa amizade foi ficando cada vez mais forte.

Até que um dia, ouvi um rumor de um aniversário de uma amiga dela em que, evidentemente, ela iria. E eu, pelo orgulho besta de não ter sido convidado pessoalmente pela aniversariante, relutei em aceitar o convite para acompanhá-la. No dia do aniversário, cheguei cedo a casa dela, como quem não quer nada, e fiquei por ali, sondando. Conversando uma besteirinha aqui, outra acolá, com algumas pessoas que lá estavam.


Fotos tiradas pouco antes de ela 
sair para o bendito aniversário


Ela estava linda. Uma princesa. E mal notei o que os outros diziam. Tiramos algumas fotos juntos, um prenúncio de muitas outras que viriam. Ela teve que sair pra festa de aniversário com os amigos e eu tive que voltar pra casa remoendo uma dor que eu não queria admitir. Estava apaixonado.

No dia seguinte, logo pela manhã me flagrei pensando nela. Almocei com aquela dúvida: será que ela encontrou alguém na festa que correspondeu àqueles sentimentos tão puros que ela traz guardados em seu coração?

Viajei para uma cidade próxima para auxiliar nas atividades musicais de uma congregação Batista, mas só Deus sabe como meu coração ficou ansioso. Orei veementemente para que o Senhor me respondesse se deveria ou não confessar a ela que estava arrependido e que a queria por namorada. Voltei para minha cidade na carroceria de uma caminhoneta, olhando para as estrelas e indagando quando seria que, afinal, eu descobriria o amor verdadeiramente. 



Enfim, chegamos. Era quase 22:00 horas e juntamente com os irmãos batistas fui guardar o equipamento. A ansiedade me consumia. Um pulsar forte se apoderara de mim. Deu vontade de correr até a casa dela e declarar o que eu estava sentindo. E eu o faria, não fosse um gentil irmão que me ofereceu carona para casa. E eu disse a ele que não iria para casa, mas que aceitava a carona até certo local. Sorte a minha que o motorista morava bem próximo a casa dela.

Ela havia esperado desde cedo que eu fosse até lá. Esperou, esperou, e quando ela já estava entrando e fechando a porta, eis que a caminhoneta passa em frente a casa dela e eu salto da carroceria em que eu estava segurando, corro em direção a ela e pergunto se ela já iria dormir.

Não me recordo se o brilho maior era nos meus olhos ou nos dela. Só sei que conversamos ali mesmo na área. Eu estava nervoso como nunca estive. Confessei meu erro em achar que ela era muito jovem e que seria apenas um amor juvenil. Olhei para ela e perguntei se ela queria ser minha namorada. Ela parece não ter acreditado no momento. Logo me disse que se eu assim o quisesse teria que pedir à mãe dela.

Assim o fiz. Ela chamou a mãe, que ficou em pé na parte de dentro da casa, junto à porta. Eu disse:
– Quero namorar a sua filha! – O sangue sumiu das minhas veias. Ela disse: – É isso que você quer, Rute? – E ela:
– Sim, mainha.
– Pois então, eu permito!

Eu confesso a você, meu querido leitor, que eu não sabia o que fazer naquela hora. Olhei pra frente, pra baixo, para as minhas mãos, para as dela, para aqueles lindos olhos e um sorriso radiante guardado e que se esgueirava pelo canto da boca. Que se aproximou da minha, nossas mãos se encontraram, nossas almas se tocaram e nos beijamos inundados de um sentimento ímpar de felicidade, afeto e respeito. Foi o primeiro de muitos beijos como eu nunca havia dado ou recebido. Foi divino aquele momento (e tem sido até hoje o nosso casamento e continuará sendo).

Já no dia seguinte, eu sempre muito sério no trabalho, deixei-me flutuar ao vê-la entrar na sala de aula. Trocamos sorrisos. E a cada dia do ano letivo de 2008 e no ano seguinte, todos viam o nosso amor aumentar e se alegravam conosco, nos apoiando, e sentindo conosco esta imensa felicidade de sermos um.

Concluintes 2009 
Tornamo-nos grandes amigos.

Foi no mês de março que preparamos uma surpresa para o aniversário dela. Sua mãe e irmãs, nossos amigos e eu.

Mas isso é uma outra história...




sábado, 27 de julho de 2013

FOLHAS DO LIVRO

À Walt Whitman
por sua rica poesia 




Um poema traduzido é uma mentira interpretada.

Não faz sentido desapropriar a rosa do seu cheiro

E impregnar a luz com sua substância odorífera.




Cada poema foi feito para ser lido em sua própria língua.

Não faz sentido tirar da maçã o seu sabor

E incorporá-lo à matéria sombria dos sonhos.




Um poema em outro signo é como a alma fora de seu corpo.

Não faz sentido a relva, tocada pelo vento,

Sentidos por tuas mãos, este conjunto tátil infinito,

Ser subtraída da matéria corpórea do desejo.




Tua terra, teu lar, tua vida, tua alma, ó poeta!

Essa relva que te cerca e te motiva a ir além

do óbvio e da linguagem: é tanto matéria tua

como composto da alma dos homens.

A poesia de existir, exista-se.

Revele-se, que se faça em sua própria terra,

Da mesma matéria infinita que compõe a linguagem.




Um poema lido em língua pátria é uma verdade absoluta

de sentir e do prazer verbal.

Faz sentido sair de si e invadir cada linha de matéria incompreensível

E viajar na náusea de uma leitura intangível.

E replicar-se num mundo inexplicável, de uma estética sublime

E impecável, num evento orgíaco das palavras

No baú que contém a tua mente verdadeira.







Kleber Brito

quarta-feira, 24 de julho de 2013

LEITURA - CORDEL - A peleja da Carta com o E-mail, de Janduhi Dantas


Um gênero textual muito precioso para mim é o Cordel. E por isso considero importante estar levando o aluno a conhecer e a desenvolver gosto pela literatura popular nordestina. Dito isto, quero compartilhar com meus colegas professores de língua portuguesa este arquivo em PDF com um cordel muito interessante que trata de dois gêneros textuais sempre presentes nos livros didáticos: a carta e o e-mail.

São inicialmente "três coelhos com uma cajadada" apenas. Pode-se abordar a literatura de cordel em sala de aula, sua leitura, as características do gênero, a linguagem, e em seguida introduzir dois outros gêneros, suas respectivas características e culminar na produção de alguma carta ou e-mail cujo assunto gire em torno das impressões que o leitor teve sobre a literatura de cordel, por exemplo.

Enfim, baixe o arquivo, querido colega, e monte o cordel para seus alunos ou com eles. Se você tem 48 alunos numa turma de 1º ano médio como eu, basta imprimir a primeira página 24 vezes e as demais páginas 48 vezes (lembrando de imprimir "frente e verso"). Dobre as páginas igualmente e, usando um estilete ou guilhotina, corte-as bem ao meio. Você pode cortar com tesoura mesmo, mas vai demorar bastante. Claro que você pode pedir para aquele seu colega ou sua colega que trabalha na papelaria para cortar pra você.

Feito isso, é só juntar as páginas na sequência correta e grampear.

Boa aula e boa diversão.



sábado, 20 de julho de 2013

ATIVIDADE - CANÇÃO: CHÃO DE ESTRELAS

ATIVIDADE

Leia o texto abaixo.

Chão de Estrelas - Silvio Caldas
Composição: Sílvio Caldas / Orestes Barbosa
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou


 
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão

 
 





















1. No início da canção, do 1º ao 6º verso, o eu lírico ilustra figurativamente como era sua vida. Procure interpretar cada verso que compõe este agrupamento inicial e explique o que você compreendeu.

2. A que o eu lírico compara sua moradia, na segunda estrofe da canção? 

3. Se você fosse dar um título a cada estrofe ou dividi-la em temas, que palavra ou expressão você atribuiria a cada uma delas?

4. Qual a relação entre roupas e bandeiras na 3ª estrofe? Por que o eu lírico usa essa figura de linguagem?

5. Na última estrofe, o eu lírico descreve sua relação com a natureza destacando uma situação problemática que vive. Explique.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Atividade - Compreensão e interpretação de texto

TEXTO BASE
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O Brasil está preparado para receber a Copa Mundo?
Ao término da Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, foi ao ar, nos 60 segundos posteriores ao apito final, um filme promocional do renomado cineasta brasileiro Fernando Meirelles convidando a todos para a Copa do Mundo do Brasil.

Por Mauricio Fernandes Lima

Ao término da Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, foi ao ar, nos 60 segundos posteriores ao apito final, um filme promocional do renomado cineasta brasileiro Fernando Meirelles convidando a todos para a Copa do Mundo do Brasil.
A transmissão, que chegou a mais de 150 países, faz parte da estratégia de marketing definida para o evento pelo Ministério de Turismo, que inclusive teve um pavilhão em Johanesburgo – a Casa Brasil.
Foi de lá que começou a sair o material para alimentar a mídia internacional, com informações do País ao longo da duração da Copa do Mundo de 2010 (meses de junho e julho de 2010), a qual atingiu o recorde de audiência acumulada em mais de 40 bilhões de espectadores no período.
Aliás, as quatro capitais nordestinas, que serão cidades-sede em 2014 – Salvador, Recife, Fortaleza e Natal - promoveram uma grande festa típica na Casa Brasil.
A maioria das cidades que serão sedes não iniciaram suas obras de modernização ou construção de estádios, aeroportos, de infra-estrutura e hotéis
A oportunidade de sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro – algo que até agora nenhuma nação conseguiu em tão curto período de tempo – irá ajudar muito a projetar o nosso País no exterior e obrigará a realização de um rigoroso cronograma de obras para garantir a infra-estrutura adequada para receber os numerosos visitantes e assegurar a correta realização dos dois mega-eventos esportivos. Essa combinação de eventos deve resultar, de acordo com a empresa de consultoria Value Partners Brasil, em uma injeção de recursos da ordem de R$ 184 bilhões só no período de 2010 à 2014, dos quais R$ 48 bilhões serão destinados diretamente para as obras e R$ 136 bilhões pela recirculação de dinheiro em diversos setores.
Além dos evidentes benefícios em modernização do País, esse esforço concentrado deve contribuir decisivamente para que o número de turistas estrangeiros dobre ou triplique em relação ao número atual (cerca de 5,5 bilhões), até 2016. Porém, para que essa situação seja alcançada, é vital que inicialmente tenhamos bons aeroportos e uma certa facilidade na mobilidade urbana. Muitas ações deverão ser feitas tomadas o mais breve possível nas 12 cidades-sede. Infelizmente, muitas delas estão muito mal planejadas e a grande maioria, atrasada!

Vamos torcer pra tudo dar certo, inclusive a taça !!!!!



ATIVIDADE
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1.       No trecho “Ao término da Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, foi ao ar, nos 60 segundos posteriores ao apito final”, a expressão em destaque pode ser substituída por:
A)      Foi lançada
B)       Foi transmitida
C)       Foi arremessada
D)      Foi jogada
E)       Foi promovida

2.       No trecho “irá ajudar muito a projetar o nosso País no exterior”, o termo projetar significa nesse contexto:
A)      Lançar.
B)       Planejar.
C)       Divulgar.
D)      Iluminar.
E)       Estruturar.

3.       Assinale a alternativa que está de acordo com o texto.
A)      Segundo o autor, o Brasil não está preparado para receber a Copa.
B)       Mesmo que as obras estejam atrasadas, o autor acredita que as obras podem ser realizadas.
C)       As obras não serão concluídas, apesar de o autor não ter dúvidas sobre o andamento delas.
D)      As obras serão concluídas, mesmo porque estão atrasadas e isso é normal para o autor.
E)       O Brasil tem que fazer muitas obras de infraestrutura, o que não acontecerá até 2014.

4.       De acordo com o texto, quais são os benefícios em modernização que o país terá, com a Copa do Mundo? 
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5.       A seu ver, em que o governo brasileiro poderia investir esses R$ 184 bilhões? 
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6.       Releia o texto e em seguida responda:

A)      Qual é o gênero textual do texto lido?  ___________________________________________________________

B)       A palavra , no 3º parágrafo, se refere a quê? _____________________________________________________

C)       Qual é o assunto abordado no texto? ____________________________________________________________

D)      Qual o sentido da palavra torcer no último parágrafo? _________________________________________________

E)      Em que trecho o autor revela preocupação com a organização das obras para a Copa do Mundo? ___________________________________________________________________________

sábado, 6 de julho de 2013

Atividade - A Morte de Nanã, de Patativa do Assaré


Olá, queridos amigos professores. Segue abaixo um dos poemas que mais me emocionam quando leio ou recito em minhas aulas. Disponibilizo também uma atividade e recomendo que, em suas aulas, assistam ao vídeo do poeta Patativa do Assaré recitando o poema. A atividade é bem simples, não exigindo muito esforço por parte dos alunos para respondê-la. Serve apenas como um aquecimento para uma atividade mais complexa.

VÍDEO



POEMA

Eu vou contá uma histora
Que eu não sei como comece,
Pruquê meu coração chora,
A dô no meu peito cresce,
Omenta o meu sofrimento
E fico uvindo o lamento
De minha arma dilurida,
Pois é bem triste a sentença
De quem perdeu na isistença
O que mais amou na vida.

Já tou velho, acabrunhado,
Mas inriba dêste chão,
Fui o mais afortunado
De todos fios de Adão.
Dentro da minha pobreza,
Eu tinha grande riqueza:
Era uma querida fia,
Porém morreu muito nova.
Foi sacudida na cova
Com seis ano e doze dia.

Morreu na sua inocença
Aquêle anjo incantadô,
Que foi na sua isistença,
A cura da minha dô
E a vida do meu vivê.
Eu bejava, com prazê,
Todo dia, demenhã,
Sua face pura e bela.
Era Ana o nome dela,
Mas, eu chamava Nanã.

Nanã tinha mais primô
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,

Pelo terrêro corria,
Sempre sirrindo e cantando,
Era lutrida e sadia,
Pois, mesmo se alimentando
Com feijão, mio e farinha,
Era gorda, bem gordinha
Minha querida Nanã,
Tão gorda que reluzia.
O seu corpo parecia
Uma banana-maçã.

Todo dia, todo dia,
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.

Mas, neste mundo de Cristo,
Pobre não pode gozá.
Eu, quando me lembro disto,
Dá vontade de chorá.
Quando há sêca no sertão,
Ao pobre farta feijão,
Farinha, mio e arrôis.
Foi isso que aconteceu:
A minha fia morreu,
Na sêca de trinta e dois.

Vendo que não tinha inverno,
O meu patrão, um tirano,
Sem temê Deus nem o inferno,
Me deixou no desengano,
Sem nada mais me arranjá.
Teve que se alimentá
Minha querida Nanã,
No mais penoso matrato,
Comendo caça do mato
E goma de mucunã.

E com as braba comida,
Aquela pobre inocente
Foi mudando a sua vida,
Foi ficando deferente.
Não sirria nem brincava,
Bem pôco se alimentava
E inquanto a sua gordura
No corpo diminuía,
No meu coração crescia
A minha grande tortura.

Quando ela via o angu,
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!

Se passava o dia intêro
E a coitada não comia,
Não brincava no terrêro
Nem cantava de alegria,
Pois a farta de alimento
Acaba o contentamento,
Tudo destrói e consome.
Não saía da tipóia
A minha adorada jóia,
Infraquecida de fome.

Daqueles óio tão lindo
Eu via a luz se apagando
E tudo diminuindo.
Quando eu tava reparando
Os oínho da criança,
Vinha na minha lembrança
Um candiêro vazio
Com uma tochinha acesa
Representando a tristeza
Bem na ponta do pavio.

E, numa noite de agosto,
Noite escura e sem luá,
Eu vi crescê meu desgôsto,
Eu vi crescê meu pená.
Naquela noite, a criança
Se achava sem esperança
E quando vêi o rompê
Da linha e risonha orora,
Fartava bem pôcas hora
Pra minha Nanã morrê.

Por ali ninguém chegou,
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno.

E, enquanto nós assistia
A morte da pequenina,
Na menhã daquele dia,
Veio um bando de campina,
De canaro e sabiá
E começaro a cantá
Um hino santificado,
Na copa de um cajuêro
Que havia bem no terrêro
Do meu rancho esburacado.

Aqueles passo cantava,
Em lovô da despedida,
Vendo que Nanã dexava
As misera desta vida.
Pois não havia ricurso,
Já tava fugindo os purso.
Naquele estado misquinho,
Ia apressando o cansaço,
Seguido pelo compasso
Da musga dos passarinho.

Na sua pequena bôca
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu.

Enquanto finalizava
Seu momento derradêro,
Lá fora os passo cantava,
Na copa do cajuêro.
Em vez de gemido e choro,
As ave cantava em coro.
Era o bendito prefeito
Da morte do meu anjinho.
Nunca mais os passarinho
Cantaro daquele jeito.

Nanã foi, naquele dia,
A Jesus mostrá seu riso
E omentá mais a quantia
Dos anjo do Paraíso.
Na minha maginação,
Caço e não acho expressão
Pra dizê como é que fico.
Pensando naquele adeus
E a curpa não é de Deus,
A curpa é dos home rico.

Morreu no maió matrato
Meu amô lindo e mimoso.
Meu patrão, aquele ingrato,
Foi o maior criminoso
Foi o maió assassino.
O meu anjo pequenino
Foi sacudido no fundo
Do mais pobre cimitero
E eu hoje me considero
O mais pobre dêste mundo.

Soluçando, pensativo,
Sem consôlo e sem assunto,
Eu sinto que inda tou vivo,
Mas meu jeito é de defunto.
Invorvido na tristeza,
No meu rancho de pobreza,
Tôda vez que eu vou rezá,
Com meus juêio no chão,
Peço em minhas oração:
Nanã, venha me buscá!



ATIVIDADE

1.       Qual o tipo textual predominante no texto?

2.       A que gênero textual o texto pertence? (É interessante perguntar aos alunos se o texto é apenas um poema extenso ou recebe outra classificação. Faça-os perceber que os poemas podem apresentar classificações diferentes, o que os enquadra em gêneros diferentes: ode, cantiga, cordel, soneto, haicai)

3.       Com relação ao gênero literário, em qual gênero podemos enquadrar o texto? Lírico, narrativo ou dramático?

4.       Quais as características estruturais do texto em estudo? (Como o texto é organizado. Faça a versificação. Mostre as rimas, separe as sílabas poéticas com os alunos, conte os versos e as estrofes e peça que os alunos montem a resposta em um parágrafo bem estruturado).

5.       Em que lugar a história ocorre? Em que tempo ela se passa? Quais as “personagens”? Quem é o eu lírico?

6.       Resuma, com suas próprias palavras, o enredo do texto lido. (Peça para que os alunos sintetizem em um ou dois parágrafos a história do texto).

7.       Como era a menina Ana (quais as características dela - físicas e psicológicas) antes e depois da “sêca de trinta e dois”? Em que versos encontramos tais descrições? (Se preferir, peça que os alunos montem uma tabela com as características).

8.       A quem o pai de Ana atribui a culpa da morte dela? Por qual motivo? (Procure demonstrar a cadeia de acontecimentos que, na visão do eu lírico, provocaram a morte da menina. Aproveite para mostrar aos alunos as relações de causa e consequência).

9.       Como, provavelmente, ficou a família, após a morte da menina? Exemplifique com passagens do texto. (Promova uma reflexão sobre o impacto da morte da menina, ou mesmo da morte, em sentido mais amplo, nas pessoas próximas ao ente falecido).