sexta-feira, 21 de junho de 2013

Poema: TROVA DE SETE CARA

Desde que eu me entendo por leitor, gosto de ler e reler os poemas de Carlos Drummond de Andrade. Já li a obra poética dele mais de uma vez e sempre redescubro um poema que parece que eu nunca li. A poesia faz isso com a gente.
Foi então que, depois de ter lido algumas paródias feitas por poetas como Manuel Bandeira (só pra citar um grande expoente), resolvi tentar fazer uma paródia com o "Poema de Sete Faces", de Drummond.




POEMA DE SETE FACES - Carlos Drummond de Andrade
Do livro Alguma poesia (1930)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


TROVA DAS SETE CARA
Kleber Brito

Quando nasci, uma visage
dessas que véve na sombra
botou os ói em riba deu
e diche: “Vai fii duma égua,
Sê coqué coisa na vida!”

As casa zóia os zomi
Que corre atrai dar mulé
A tarde tarvez fosse cinza
Não houvesse tanta estiage.

O carro de boi passa chei de muleque mucegado
As perna cheia de firida
Pra que tanto minino, diacho, pergunta meu coração.
Posso fazê o quê?
Só espiá a vida passá.

O homi adetrais do bigode
É séro, omilde e parrudo.
Acabrunhado.
Quage num tem amigo
O homi adetrais dos ócru e do bigode.

Valei-me, Nossinhô. Caus’di quê me abandonô
Se já sabia que eu num sô divino
E qu’ eu sou fraco feito a gôta.

Mundo mundo mundo
Cadê o cumpade Raimundo?
Tá fazeno rima e cumeno feijão,
Mundo, mundo mundo
Tô cum pobrema de coração.

Eu não devia de dizê
Már essa lua
már essa cachaça

deixa o cabra mole feit’a mulesta.


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