Leia o poema a seguir para
responder a questão que segue.
Não sei dançar
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe,
irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam éter, outros
cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.
(...)
(Libertinagem, Manuel
Bandeira)
Sobre os versos transcritos,
assinale a alternativa incorreta:
(A) A melancolia do eu-lírico é apenas aparente: interiormente ele se
identifica com a atmosfera festiva do carnaval, como se percebe no tom
exclamativo de "Eu tomo alegria!"
(B) A perda dos
familiares e da saúde são aspectos autobiográficos do autor presentes no texto.
(C) A alegria do carnaval é meio de evasão para eu-lírico, que procura alienar-se
de seu sofrimento.
(D) O último verso transcrito associa-se ao título do poema, pois o eu-lírico
não participa, de fato, do baile de carnaval.
(E) O eu-lírico revela, em tom bem-humorado e descompromissado, ser uma pessoa
exageradamente sensível.
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1967.
A lírica de Manuel Bandeira
é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do
cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e
cidade aponta para
(A)
o desejo do eu
lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua
nostalgia com relação à cidade.
(B)
a
percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente
inércia da vida rural.
(C)
a opção do
eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua
juventude.
(D)
a visão negativa
da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
(E)
a profunda
sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
Namorados
O rapaz chegou-se para junto
da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu
[corpo, com a sua cara.
A moca olhou de lado e
esperou.
— Você não sabe quando a gente e criança e de
[repente vê uma lagarta listrada?
A moca se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moca arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
No poema de Bandeira, poeta
modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época
(A) a reiteração de palavras
para a construção de rimas ricas.
(B) a utilização expressiva da linguagem falada em
situações do cotidiano.
(C) a simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
(D) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário
dessa época.
(E) o recurso ao dialogo, gênero discursivo típico do Realismo.
“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um
manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora
críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na
época.
Poética
Estou farto do lirismo
comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos
loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel.
Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
Com base na leitura do
poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
(A)
Critica o lirismo louco do movimento modernista.
(B)
Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
(C)
Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
(D)
Propõe o retorno do movimento romântico.
(E)
Propõe a criação de um novo lirismo.
Leia os fragmentos a seguir,
extraídos, respectivamente, dos poemas “Profissão de fé”, de Olavo Bilac, e “Os
sapos”, de Manuel Bandeira, e assinale a alternativa incorreta.
Fragmento 1
(...)
Invejo o ourives quando
escrevo:
imito o amor
Com que ele, em ouro,
o alto-relevo Faz de uma flor.
(...)
Torce, aprimora, alteia,
lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a
rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe
cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito.
(...)
Fragmento 2
Urra o sapo-boi:
- 'Meu pai foi rei' – 'Foi!'
- 'Não foi' – 'Foi!' -'Não foi!'
Brada um em assomo
O sapo-tanoeiro:
- 'A grande arte é como o
lavor do joalheiro
Ou bem do estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo'.
(A)
No poema de Olavo Bilac, o eu lírico compara o trabalho do poeta com o
do ourives, professando a crença parnasiana de que o grande poema é resultado
de um minucioso trabalho do poeta com as palavras, as quais devem ser
cuidadosamente selecionadas e combinadas segundo uma lógica pré-estabelecida.
(B)
O poema de Manuel Bandeira, escrito em 1918 e lido em uma das noites da
Semana de Arte Moderna, empreende uma intensa crítica aos poetas parnasianos
que defendem uma linguagem excessivamente formal, prendem-se a regras
pré-estabelecidas ligadas à metrificação, às rimas e aos temas clássicos.
(C)
O poema de Manuel Bandeira reforça a estética defendida no
poema de Olavo Bilac. Pode-se observar isso no verso "A grande arte é como
o lavor do joalheiro", o qual, no contexto em que está inserido, sintetiza
a apologia parnasiana da forma.
(D)
Em "Os sapos", Manuel Bandeira põe em prática os ideais da
estética modernista não apenas quando critica o modo de poetar dos parnasianos,
mas também quando se vale da linguagem coloquial, da sintaxe simples e direta,
além de versos livres e do tom leve e bem humorado.
(E)
Os textos de Olavo Bilac e de Manuel Bandeira expressam pontos de vista
bastante diferentes no que se refere ao ofício do poeta. No poema deste último,
o sapo-tanoeiro simboliza os parnasianos, cuja concepção poética é intensamente
ironizada.
Questão 6 (Profkbrito 2015)
Momento num
café – Manuel Bandeira
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto
se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta
No poema acima transcrito, Manuel Bandeira nos
apresenta uma visão desencantada do mundo e da humanidade, evidenciada
principalmente no verso:
(A)
“Quando o enterro passou”
(B)
“Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem
finalidade”
(C)
“Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado”
(D)
“Estavam todos voltados para a vida”
Assinale a alternativa que apresenta uma afirmação INCORRETA:
(A) A atitude do homem atento ao enterro reduplica a
opinião do eu lírico sobre a relação vida/morte.
(B) O poema expressa uma visão materialista e irônica do
mundo ao inverter a relação tradicional entre a alma e o corpo.
(C) Um dos componentes estruturantes da lírica de
Bandeira, presente no poema, é a percepção linear dos elementos do mundo.
(D)
Um
traço fundamental da lírica de Bandeira, presente no poema, é a abordagem de
temas universais a partir de elementos do quotidiano.
Questão 8 (Profkbrito 2015)
No poema “momento num café”, os versos “E saudava a
matéria que passava” e “Liberta para sempre da alma extinta” revelam:
(A)
o caráter
prosaico da poesia de Manuel Bandeira.
(B)
O entendimento do
autor de que a alma é imortal.
(C)
a visão
da morte como o fim do corpo e da alma.
(D)
a compaixão do
autor pelo sofrimento causado pela morte.
Questão 9 (Profkbrito 2015)
Leia o trecho e marque a
alternativa que melhor interpreta este trecho
“Estavam todos voltados
para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.”
(A)
O poeta procura
fixar esta palavra em nossa cabeça ou quer mostrar que naquelas cabeças
presentes naquele café não havia espaço para a morte.
(B) Todos os pensamentos estavam concentrados na vida daquele que
passava sendo levado no caixão.
(C) O poeta percebe que há, entre os homens ali presentes,
alguns que provavelmente não tiraram o chapéu de forma programada.
(D) A repetição do termo vida é indício de uma tentativa mal sucedida de rima.
Questão 10 (Profkbrito 2015)
“Do rio... E esta saudade é
boa como um sonho!
E esta saudade é um
sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os cabelos douram.”
Manuel Bandeira
Na estrofe acima, quantas orações temos?
(A) 3 orações;
(B) 4 orações;
(C)
5
orações;
(D) 6 orações.
Questão 11 (Profkbrito 2015)
Analise o trecho “(...) Componho
O ambiente cuja luz os cabelos douram.”
(I)
O verbo “douram”,
por concordar com “cabelos” foi usado adequadamente nesta sentença.
(II)
O verbo “douram”
não apresenta concordância adequada, uma vez que é a luz que doura os cabelos,
e não o contrário.
(III)
A concordância
inadequada revela a incapacidade dos autores modernistas em escrever de acordo
com a norma padrão do português.
(IV)
A concordância
foi ignorada, haja vista a liberdade modernista se aproximar da fala coloquial.
Estão corretos os itens:
(A) I e II, apenas.
(B) I e III, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) II e IV, apenas.
(E)
I e IV,
apenas.
Questão 12 (Profkbrito 2015)
“Do rio... E esta saudade é
boa como um sonho!
E esta saudade é um
sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os cabelos douram.”
Manuel Bandeira
A estrofe acima é composta por:
(A)
4
períodos: 3 simples e 1 composto.
(B) 4 períodos: 2 simples e 2 compostos
(C) 5 períodos simples.
(D) 2 períodos compostos.
Questão 13 (Profkbrito 2015)
“Se fosse dor tudo na vida
Seria a morte o grande bem.”
Manuel Bandeira
O termo em destaque nos versos acima apresenta o mesmo
valor morfossintático e semântico em:
(A) “Que ao se mostrar às vezes boa, / Ela requinta em ser
cruel...”
(B) “Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo, / Mais
a descompreendo e não lhe acho sentido.”
(C) “Morrem as rosas. Minhas pálpebras se molham.”
(D) “Sobre a mesa, pétala a pétala se esfolham, / Morrem
as rosas...”
Questão 14 (Profkbrito 2015)
“Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.”
Manuel Bandeira
Julgue
os itens a seguir.
(I)
O trecho sublinhado
é uma oração coordenada assindética.
(II)
O trecho em
negrito é uma oração condicional introduzida pela conjunção “se”.
(III)
O trecho em negrito
é parte constituinte de uma oração proporcional.
(IV)
O trecho em
itálico é uma oração coordenada sindética aditiva.
Estão corretos os itens:
(A) I e II, apenas.
(B)
I e
III, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) II e IV, apenas.
(E)
I e
IV, apenas.
Questão 15 (Profkbrito 2015)
“Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.”
Manuel Bandeira
(A)
Dos termos
destacados, apenas o primeiro pode ser classificado como pronome.
(B)
O segundo e o
terceiro “a” referem-se ao termo “mais” em cada uma das ocorrências.
(C)
A coesão
referencial só não está adequada com o uso do termo “lhe”.
(D)
Dos termos
destacados, “a” é artigo em todas as ocorrências e “lhe” é pronome.
(E)
Excetuando-se
o primeiro “a”, os demais termos são pronomes e referem-se ao vocábulo “vida”.
Leia o texto a
seguir para responder às questões 16, 17 e 18.
Cantadores do Nordeste
Anteontem, minha
gente,
Fui juiz
numa função
De violeiros do
Nordeste.
Cantando em
competição,
Vi cantar Dimas
Batista
E Otacílio, seu
irmão.
Ouvi um tal de
Ferreira,
Ouvi um tal de
João.
Um, a quem
faltava o braço,
Tocava cuma só
mão;
Mas, como ele
mesmo disse
Cantando com
perfeição,
Para cantar
afinado,
Para cantar com
paixão,
A força não está
no braço:
Ela está no
coração.
Ou puxando uma
sextilha
Ou uma oitava em
quadrão,
Quer a rima
fosse em inha,
Quer a rima
fosse em ão,
Caíam rimas do
céu,
Saltavam rimas
do chão!
Tudo muito bem
medido
No galope do
sertão.
A Eneida estava
boba;
O Cavalcanti,
bobão,
O Lúcio, o
Renato Almeida;
Enfim, toda a
Comissão.
Saí dali
convencido
Que não sou
poeta não;
Que poeta é quem
inventa
Em boa
improvisação,
Como faz Dimas
Batista
E Otacílio, seu
irmão;
Como faz
qualquer violeiro
Bom cantador do
sertão,
A todos os
quais, humilde,
Mando a minha saudação.
Manuel Bandeira
(Estrela da vida inteira, p.256-257)
Questão 16 (Profkbrito 2015)
O poema acima,
que faz parte de Estrela da Tarde, de 1958, é exemplo do reaparecimento do
metro popular na obra de Manuel Bandeira. Também apresenta influência da
cultura popular os versos:
(A)
“Febre,
hemoptise, dispneia e suores noturnos./
A vida inteira que podia ter sido e que não foi./
Tosse, tosse, tosse.”
(B)
“Levou
tempo para cair fôlego./ Bambeava, tremia todo e mudava de cor./ A molecada da
Rua do Sabão / Gritava com maldade:/ Cai cai balão!”
(C)
“Estou
farto do lirismo comedido / Do lirismo bem comportado / Do lirismo funcionário
público com livro de ponto expediente / protocolo e manifestações de apreço ao
sr. diretor.”
(D)
“Quando
a Indesejada das gentes chegar / (Não sei se dura ou caroável), / talvez eu
tenha medo. / Talvez sorria, ou diga: / — Alô, iniludível!”
Questão 17 (Profkbrito 2015)
O poema
“Cantadores do Nordeste”:
(A)
Reforça
o estereótipo de que os cantadores são poetas de menor categoria que os
modernistas, pois aqueles só fazem rima com “inha” ou com “ao”.
(B)
Utiliza
a métrica tradicional e os elementos musicais da cantoria de viola para exaltar
os cantadores nordestinos e sua rica poesia feita na hora, “de repente”.
(C)
Apresenta
a incapacidade do poeta em escrever seus poemas com métrica tradicional, o que
o fez escolher ser modernista.
(D)
Mostra
um Manuel Bandeira descuidado com a gramática tradicional, pois escreve “Cuma”,
“quadrão” e repete o “não” no verso “Que não sou poeta não”.
Questão 18 (Profkbrito 2015)
Em “Mas, como
ele mesmo disse / Cantando com perfeição, / Para cantar
afinado, / Para cantar com paixão, / A força não está no braço: /
Ela está no coração.”, o termo
destacado refere-se à palavra:
(A)
“perfeição”.
(B)
“paixão”.
(C)
“coração”.
(D)
“força”.
Gabarito:
1.a; 2.b; 3.b; 4.e; 5.c; 6.b; 7.d; 8.c; 9.a; 10.c; 11.e; 12.a; 13.b; 14.b; 15.e; 16.b; 17.b; 18.d.